12/13/2006

O Profeta resolve os problemas.

Fui contratado pelo Governo. Yah, eles apareceram cá em casa a pedir-me ajuda. Ao início olhei assim um bocado de esguelha e pensei: "O que é que estes gajos querem de mim, agora?! O caso
já foi arquivado! Não fui eu!", mas depois é que me expuseram o caso. O que se passava é que eles estavam naturalmente preocupados com a elevada taxa de mortalidade nas estradas portuguesas. "Porquê? Acham que está demasiado baixa? Não há problema, eu trato disso" - disse eu, eles rapidamente esclareceram que era o oposto. Eles queriam que eu ajudasse a resolver o problema, que contribuísse para a descida da taxa. Cada um com a sua tara, não tenho nada a ver com isso. Eu disse que apenas faria isso se me passassem um documento com selo do Presidente, e do 1º Ministro a dizer que não preciso de dinheiro. Uma espécie de carta-branca válida para o território nacional. Podia simplesmente entrar numa loja, mostrar o documento e levar tudo o que eu quisesse sem pagar nada. "E o pobre comerciante!?", o Estado paga-lhes. Perfeito. O homem do Governo aceitou sem pensar duas vezes. Demos um aperto de mão. Não fiquei surpreendido ao reparar que o aperto de mão do Governo era daqueles moles, frios e suados. Não ficou bem na minha ficha.
Seja como for,pus mãos à obra. Fui para a minha cabana no meio da floresta e pus-me a pensar. Comia esquilos, fumava ópio e ocasionalmente caçava ursos. De repente, a resposta atingiu-me como um relâmpago. O problema não está nas pessoas a guiarem rápido demais, nem na falta de civismo, nem na ignorância das regras mais básicas do código de estrada... Não. O problema está na rádio. Sim. Na rádio. É que as estações de rádio têm que respeitar certas quotas, e têm que emitir uma certa percentagem de música portuguesa. E aí cai o Carmo e a Trindade. Imaginam que estão a conduzir a alta velocidade enquanto falam ao telemóvel na auto-estrada, estão a ouvir a última malha do Sean Paul ou dos Maroon 5 quando de repente começam a ouvir o Luís Represas a cantarolar as suas canções. Alguém disse narcolepsia induzida por ondas de rádio? Ding Ding! Tentem manter a pestana aberta enquanto ouvem o Luís... Ou Mafalda Veiga... Ou Paco Bandeira... Ou André Sardett... Ou Tony Carreira... Ou Fingertips... Ou UHF... Impossível.
Tendo a credibilidade que tenho, não precisei de apontar nada em papel nenhum, ou de apresentar provas científicas, simplesmente dirigi-me ao Governo com os meus resultados. Eles ficaram estupefactos - "Como é que nós nunca reparámos nisto!? LUIS REPRESAS!!". É com grande júbilo que digo que o final desta história é um final feliz. A GNR caçou o Luis Represas, a Mafalda Veiga, o Pago Bandeira, o André Sardett, o Tony Carreira, os Fingertips e os UHF... Levaram-nos para as traseiras de um armazém antigo e administraram uma bala na cabeça de cada um deles.
Digo também com orgulho que a mortalidade na estrada baixou para um óbito por ano inteiro. Curiosamente, este ano foi Paulo Gonzo que adormeceu enquanto cantarolava uma música do seu novo album.

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